sexta-feira, 3 de julho de 2009

Pina Baush


A primeira vez que me deparei com o trabalho da alemã Pina Baush fiquei extasiada e desconfortável. Desconfortável porque, até então, eu acreditava que a dança, apesar de toda a sua genialidade, não era capaz de retratar no palco, a vida com todas as suas entranhas, diferentemente do teatro e cinema. Eu acreditava que a dança era só diversão e pouca poesia. Eu era completamente leiga, e, por isso, mereço um desconto da parte de vocês. Quando me deparei com o trabalho de Pina, nos anos 2000, na Suíça, eu sabia apenas que veria um espetáculo de uma coreógrafa famosa, mas não fazia idéia de quem ela era, nem da dimensão do seu trabalho, nem do quanto àquela mulher ampliaria a minha visão de mundo. Foi uma oportunidade e tanto aquela. Desde então, me apaixonei por ela e pelo teatro-dança que ela produziu. Comecei a ler tudo ao seu respeito, acompanhar o seu trabalho e a curtir e entender os espetáculos de outras companhias, muito menos famosas que a sua Tanztheater Wuppertal.

A participação de Pina Baush, em Hable con Ella, de Almodóvar foi um outro momento de desconforto para mim, apesar de toda beleza e grandiosidade de sua apresentação nas telas. Não conseguia entender porque me sentia tão desconfortável ao assistir às suas apresentações. Sentia uma inquietação enorme. Uma vontade imensa de me mover e de mover o mundo. Só consegui entender, tempos depois, ao ler uma entrevista, onde ela dizia: "O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”, resumia Pina Bausch a respeito do propósito de seu trabalho.

Nos apresentações da Companhia Tanztheater Wuppertal, os dançarinos em cena não dançam. Correm. Gritam e riem, contam piadas. Alguém derrama água e joga terra no chão do palco. Talvez até cresça grama ali. Piruetas velozes e pernas esticadas para o alto são coisas inexistentes numa encenação dessas. Mas seres humanos – pessoas vivas com medos, amor, tristeza e fúria. É tudo muito pulsante, vivo e desconfortável, como já disse inumeras vezes nesse texto. Mas não é um desconforto que te faça deixar a sala de espetáculos. E, sim, um desconforto que te faz lembrar quando você era livre e podia se mover da maneira que bem entendia no mundo. Sem concessões, sem pudores, sem medo do tempo, sem obstáculos.

Sobre Pina Baush ou a Vênus da Arte, como bem disse Caetano:

A dançarina Pina Bausch rompeu radicalmente com o balé clássico e se voltou contra a tradição da Modern Dance. Essa mulher virou todo o mundo da dança de pernas para o alto em seus 40 anos de trabalho. Teatro-dança é como a maioria denomina o que ela faz. Pina Bausch, no entanto, se refere a uma "abordagem psicológica individual". Cada peça é um novo apelo para que o espectador "confie em si mesmo, se enxergue e se sinta".

Sua carreira começou com aulas de balé. Nascida em 1940, em Solingen, filha de um dono de restaurante, Phillipine Bausch gostava de passar seu tempo debaixo da mesa. Ela costumava passar horas a fio no restaurante dos pais observando os fregueses

Desde cedo se entusiasmou pela dança. As primeiras apresentações lúdicas com o balé infantil ocorreram em Wuppertal e Essen. Com 15 anos, iniciou sua formação de dança na Folkwangschule de Essen, fundada pelo célebre coreógrafo Kurt Joos.


Em seus trabalhos tardios, ela viria a conjugar inúmeros elementos de dança, música, linguagem e teatro. Mas, antes de mais nada, a estudante concluiu o curso de Dança e Pedagogia em Dança no ano de 1958. E viajou imediatamente depois aos Estados Unidos, após ter recebido um prêmio de distinção e uma bolsa de estudos da Folkwang.
Nos anos 1970, Bausch criou novas formas e estilos no teatro e na dança. Dez anos mais tarde, seu trabalho ganhou, na Alemanha, a mesma importância que o teatro falado.
A companhia de Pina Bausch esteve pela última vez no Brasil em 2006 e volta aos palcos paulistanos em setembro, onde mostrará duas obras fundamentais na carreira da coreógrafa: "Café Müller", peça de 1978, e sua versão para "A Sagração da Primavera", de 1975, com música de Igor Stravinsky.
Trata-se do mesmo programa que Bausch e seu grupo de Wuppertal apresentaram no Brasil em 1980, na primeira turnê da companhia ao país.
Serviço:
Teatro Alfa - R. Bento Branco de Andrade Filho, nº 722, Santo Amaro. São Paulo, SP. Tel.:115693-4000 e 0300-789-3377. www.teatroalfa.com.br.

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