
Lenda viva da cena punk-rock, Iggy Pop, gentleman que se tornou, evitou um choque maior dos seus fãs mais saudosistas ao declarar, previamente, que estava produzindo um disco de ... Jazz e Bossa Nova!!!(?!)
Quando li isso, num primeiro momento pensei: não é possível. Estou fazendo confusão. Li errado. No momento seguinte o que passou pela minha cabeça foi: os fãs de Iggy Pop vão apedrejá-lo! E depois pensei no Marco Madeira (meu amigo de longa data e fã "incondicional" do cara)surtando ao receber a notícia.
Punk ortodoxo que é, o Marco certamente acharia isso uma heresia. Ele é um daqueles caras que acompanhou o movimento punk no Brasil bem de perto. Consumia tudo o que se referia ao estilo e isso inclui, claro, a velha iguana - Sr. Pop. Como um autêntico adolescente da época, o Marco também, vez ou outra, fingia odiar o que gostava, só para não ficar mal visto pelos colegas do curso técnico da Escola Federal, como confessou-me em uma conversa, dias atrás, regada à várias garrafas de vinho e alguns psicotr.... Como você confere trechos à seguir:
" No início dos anos 1980 - auge do movimento punk no Brasil-, a mim era permitido gostar apenas de punk paulista, Iron Maiden e (pasmen) RPM - diga-se de passagem, somente por causa da minha primeira desilusão amorosa. Mácula da minha vida ter ido à algum show daquela bosta. O primeiro para acompanhar minha deusa e os últimos para lembrá-la.
Quando tocava New Order, B' 52 eu gostava, mas não podia. Gostava de fingir que odiava isso para todo mundo.
Nessa época surgiu um cara magrela, rasgado, muito louco e muito bicha, que tocava um mantra chamado I wanna be your dog. Na hora pensei: que porra é essa? um punk bicha? Isso tudo era apócrifo para um futuro engenheiro mecânico. Com o tempo, reconheci naquela criatura a essência da rebeldia sem causa. O iggy Pop era foda. O pai de fenômenos adolescentes como Jackass e Joselito sem noção(rs). Depois de algum tempo comecei a reconhecer o cara como o real wild punk.
De repente, eu com 41 anos, e o cara aparece do nada falando que tinha lido um livro de um francês e tinha resolvido fazer um cd de jazz e bossa nova. Que porra é essa? Resolvi não escutar por princípios, até que um dia escutei King of the dogs. Foi demais. Minha letra. Minha música. Meu amigo Iggy Pop!! Que Deus dê toda vida aos loucos e aos rebeldes sem causa, como deu a Iguana".
Na verdade, Préliminaires, nome dado ao novo trabalho de Iggy, é mais que Jazz e Bossa Nova, tem Blues e Rock’n’Roll, lógico, apesar de bem pouco. Além disto mostra um Iggy melancólico e saudosista numa atmosfera de Belle Époque cantando em francês com sua voz gravíssima, como na faixa de abertura do disco, um standart jazzístico antes interpretado por figuras do porte de Edith Piaf, ou fazendo versão em inglês para um clássico de Tom Jobim. Certamente influenciado por Tom Waits, Leonard Cohen, Lou Reed e o amigo David Bowie, por quem vem se guiando desde que este lhe tirou do lixo na década de 70 e lhe devolveu a dignidade produzindo seus primeiros trabalhos solos.
Vele a pena ser ouvido.
Serviço:
Preliminaires, Iggy Pop, 2009
Gravadora: EMEI
Quanto: R$ 29,90.
Saiba mais:
http://www.iggypop.com/
http://blog.iggypoppreliminaires.com/
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