terça-feira, 15 de junho de 2010
Herança Real na Moda
O primeiro contato de João Pimenta com a moda aconteceu atrás dos balcões das lojas pernambucanas em Ribeirão Preto. Lá, teve acesso a peças e tecidos que, nos intervalos de seu trabalho na seção de pacotes, enrolava nos manequins, fazendo um tipo de moulage (técnica de criar roupas sem molde). Começou a fazer vitrines e, aos 19 anos, decidiu que queria criar. Mudou-se para São Paulo e foi procurar emprego na Rua São Caetano, a rua das noivas, onde passou quatro anos e juntou grana para abrir um estande no Mercado Mundo Mix. Era o início da década de 90, e o MMM se firmava como centro de consumo da geração clubber que mudou a noite e a moda de São Paulo. A alguns metros de distância, estava o então iniciante Alexandre Herchcovitch, entre muitos outros que entrariam para o Phytoervas Fashion, evento que deu origem à São Paulo Fashion Week.
Em 2005, ele entrou para o time da Casa de Criadores, evento dedicado a estilistas novatos e trabalhos experimentais. Nos últimos dois anos, suas coleções foram eleitas as melhores do evento pela critica especializada. O nível das apresentações era, inclusive, superior ao de muitos desfiles do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week. A convite da Semana de Moda de Madri, na Espanha, fez sua primeira viagem ao exterior e esticou até Paris.
Na França, numa visita ao ateliê de outro João, o megaestilista John Galliano, teve um pequeno apocalipse pessoal. “Vi que eles usavam a mesma máquina de costura que eu. Apesar da diferença de realidades brutal, vi que havia um elo básico, o instrumento de trabalho”, conta.
Voltou ao Brasil e criou uma coleção descolada e contemporânea, inspirada nas congadas, reino de antigos escravos e de João, seu pai. “Saquei que eu tinha uma herança de rituais muito complexos”, afirma.
Em sua estreia na SPFW, João achou na chegada da família real portuguesa ao Porto do Rio uma das chaves do estilo brasileiro. A coleção mistura a ornamentação dos trajes reais portugueses a modelagens e elementos de roupas de surfe.
“Pensei numa brincadeira com a nobreza piolhenta e seus trajes inadequados ao clima, e o povo, idolatrando uma fantasia de riqueza. O nosso estilo deve muito àquele encontro na praia”, finaliza o estilista.
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